terça-feira, 27 de outubro de 2009

Amazônia

Nossa ida para a Amazônia foi, digamos, curiosa. Em primeiro lugar, tivemos que pegar 1 semana de férias a mais do que o planejado, e a viagem para a Argentina já estava toda fechada; tínhamos pago muito barato nas passagens e as taxas de remarcação não valeriam a pena. Começamos a pensar para que lugar do Brasil valeria a pena ir por 5 dias. Foi então que meu avô disse que tinha milhas a vencer e que nós podíamos usar quantas precisássemos. Hmmm, tínhamos tempo e milhas para escolher ir para onde quiséssemos! Qual o lugar mais vantajoso que poderíamos ir com milhas para ficar 4/5 dias? Para ajudar o Smiles estava emitindo passagens a 6.000 milhas cada perna. Cogitamos algumas praias do nordeste, mas para lá poderíamos ir com mais facilidade em outra ocasião. Começamos a analisar os vôos que tinham disponibilidade para diversos lugares, e ao mesmo tempo comecei a ler sobre Manaus e pensei: “ta aí um lugar que deve ser um mundo completamente diferente”. A Juli topou na hora! Chegamos da Argentina em uma 2ª feira a tarde, trocamos de mala e embarcamos para Manaus na 3ª feira de manhã!

Hotel: A escolha do hotel foi bastante difícil. Optamos por um hotel de selva, pois não queríamos ficar na cidade de Manaus. Existe uma boa variedade de opções, cada uma localizada em um ponto diferente dos rios. A primeira distinção que se deve fazer é sobre os rios: o Negro possui uma água com pH muito ácido (igual ao da coca-cola), e por isso possui uma enorme vantagem: não tem mosquitos, pois eles não conseguem se reproduzir neste pH!! A vida neste rio porém é muito menos abundante. Já o Solimões tem um pH mais apropriado, e é lá que se encontra a maior variedade de peixes e animais, onde existem todos os animais bizarros, os peixes que comem gente, etc. A maioria dos hotéis de selva ficam no Negro e foi para lá que fomos: a falta de mosquitos acabou falando mais alto!

Uma vez escolhido o rio, lemos todas as resenhas de todos os hotéis no tripAdvisor (um site fundamental para quem quer viajar: http://www.tripadvisor.com ) e ficamos na dúvida entre o Tiwa e o Anavilhanas Jungle Lodge (http://www.anavilhanaslodge.com/port_site.htm ). O Tiwa é um hotel a meia hora de Manaus, que permite que você vá para a cidade quando quiser. O Anavilhanas é um hotel a 160Km de Manaus, que fica próximo ao município de Novo Airão, onde se pode fazer o passeio para nadar com os Botos cor-de-rosa. Como queríamos muito fazer este passeio (teríamos que percorrer esta distância de qualquer jeito), e estávamos em busca de sossego e afastamento da sociedade, optamos pelo Anavilhanas Jungle Lodge. Foi a melhor escolha que podíamos ter tomado! O hotel é absolutamente fantástico! Uma van do hotel nos pegou no aeroporto, cruzamos o rio de balsa (mas uma ponte estava em construção que diminuiria consideravelmente o tempo de trajeto, que é de 3h30), depois pegamos uma estrada asfaltada incrivelmente bem conservada e chegamos até o hotel. O Lodge é todo feito de madeira, e tem uma mesinha de sinuca (disparado a atração mais disputada), uma TV com DVDs e Sky (raramente utilizada), uma série de livros sobre a Amazônia, jogos de tabuleiros (mas não tinha gamão) e um bar. A suíte é muito confortável, com ar-condicionado, varanda com rede, frigobar e banheiro amplo. Um ponto positivo é que como só são 16 suítes, você acaba conhecendo e fazendo amizade com os outros hóspedes (a maioria gringos, principalmente casais, alguns em lua-de-mel, mas alguns grupos/brasileiros também). Como o hotel é afastado de tudo, conta com pensão completa, e a comida é deliciosa, sempre com um peixe diferente, mas com carne/frango no cardápio também.

Nossa rotina era a seguinte: acordar às 7h30 da manhã (exceto o dia para ver o nascer do sol, que acordamos às 5h00!!!), tomar café, fazer um passeio das 9 às 11, ficar na piscina até meio-dia, almoçar, dar uma dormidinha, fazer um passeio das 15 às 18hs, ficar na piscina até às 19hs, jantar, jogar uma sinuca e ir dormir lá pelas 21hs. Essa rotina extremamente saudável nos fez muito bem! Mesmo nos momentos na piscina e na sinuca tomávamos no máximo uma ou duas cervejinhas, e já estava bom. Era impossível ficar acordado até às 22hs, o cansaço dos passeios e do calor sempre falava mais alto. Sobre os passeios, sempre saíamos de barco, que nos levava pelo rio até o local da atividade. Os barcos levam uma geladeirinha com água e refrigerante, que são marcados na conta do seu quarto. Ficamos 4 noites e 5 dias, e fizemos as seguintes atividades:

- Tour de barco e caminhada pelo arquipélago de Anavilhanas: passeio interessante, conhecemos um pouco as ilhas e aprendemos a fazer uma armadilha para pegar tatu!

- focagem de jacarés (a noite): foi nosso primeiro passeio. Um dos guias vai dirigindo o barco, e o outro vai na frente com um holofote em busca dos jacarés. Paramos em uma ilha e uma hora os dois guias desceram para pegar um jacaré pequeno, e voltaram segurando ele nas mãos. Eles “laçaram” um bem maior também, que acabou levando o laço embora (é a “força da natureza”)

- contemplação do nascer do sol: apesar de ter que acordar às 5 da manhã, vale muito a pena! O céu é incrivelmente bonito antes do nascer do sol, e a tranqüilidade é imensa! Pegamos o barco e fomos para o meio do rio, e vimos como os pássaros começaram a aparecer depois do nascer do sol. Realmente muito bonito!

- visita aos botos cor-de-rosa e ateliê de arte regional: o passeio com os botos é muito legal! Cada pessoa ganha um prato de peixe, e pode alimentar os botos. Enquanto eles colocam meio corpo pra fora d´água pra pegar o peixe, dá pra passar mão neles. Se você quiser dá pra entrar na água com eles também (óbvio que eu entrei, para preocupação da Juli). Saindo de lá fomos de moto-táxi para uma cooperativa que faz artesanato de madeira. Nós nunca compramos muita coisa em viagens, mas ali estávamos ajudando a comunidade e resolvemos levar presentes pra toda a família. Tinha umas peças muito legais, como uma preguiça esculpida ao redor de um tronco e um tucano para colocar aperitivos. Se você gostar destas coisas, leve dinheiro de sobra neste dia.

- caminhada na selva: um dos melhores passeios. O calor dentro da mata é ainda maior do que fora. Em 5 minutos você já está encharcado, parecendo que entrou embaixo de um chuveiro. O guia foi explicando para que servia cada planta (remédio para malária, perfume para a Chanel, sinalização, etc) e quase me fez comer uma larva de inseto dizendo que tinha gosto de côco. Impressionante também quando ele colocou a mão em um árvore infestada de pequenas formigas, elas tomaram o braço dele inteiro, depois esfregou os braços e elas desapareceram. Segundo ele, os índios fazem isto quando vão caçar para eliminar o cheiro de suor humano do corpo.

- pescaria de piranhas: a isca é coração de boi, o que causou certo nojo entre as mulheres do barco. Foi divertido, apesar de não termos pegado muitas piranhas (no máximo uma por pessoa). Você pode pescar tomando uma cerveja trazida na geladeirinha do barco.

- visita às casas da população cabocla de Tiririca: está é uma comunidade de umas 40 pessoas que vive na beira do rio. Conhecemos a casa para fazer farinha e alguns artesanatos locais. As crianças de uns 6 anos de idade estavam com um facão maior que elas, cortando madeira para fazer espetinhos para churrasco, que eles vendem a menos de R$10 o milhar!! Eles tinham também uma arara azul e um falcão de estimação, que vimos bem de perto. Como não podia deixar de ser, tem um campinho de futebol lá (que desempenha papel social importante, pois são marcados torneios entre as populações, e assim surgem os casamentos)

- canoagem pelos igapós e igarapés: as canoas (para 2 pessoas) não são nada estáveis, e se não tomar cuidado ela vira e vai tudo pra água. No final nadamos em uma lagoa formada pelo rio.

- prática com arco e flecha: essa atividade é na mata ao lado do hotel mesmo, então quem não curtir muito a idéia pode voltar logo pra piscina. Eu e a Juli fizemos questão de nos aprimorar, e no final estávamos mandando muito bem!


Ah, e mais alguns pontos que eu esqueci de mencionar e que ficaram difíceis de encaixar no texto:

- Anavilhanas é o nome de um dos maiores arquipélagos fluviais do mundo, protegido pelo IBAMA e onde nem mesmo a pesca é permitida (exceto pelos índios). É formado por 400 ilhas na época de seca, que viram cerca de 800 na cheia (que divide ilhas em pedaços menores)

- o hotel de selva mais famoso é o Ariaú Towers, talvez porque era o único que existia na década de 80. Ouvimos falar que ele anda meio derrubado (não sei dizer se é verdade ou não). De qualquer forma, ele tem outra proposta que o Anavilhanas Jungle Lodge, pois é um hotel muito maior, para centenas de hóspedes. Para o que estávamos buscando, o Anavilhanas foi simplesmente perfeito!

- o site da agência de viagens Viverde (http://www.viverde.com.br/ ) possui muita informação útil e foi nosso ponto de partida para a escolha do hotel. Eles têm um comparativo entre os principais hotéis. Entramos em contato com o Ricardo e ele foi extremamente atencioso, nos deu uma série de dicas importantes e fez a reserva do Anavilhanas para nós.

- animais: se você está esperando ver muitos animais, a Amazônia não é o lugar ideal para você. Ao contrário do Pantanal, na Amazônia os animais estão todos dentro da mata, onde estão muito mais protegidos, e nós vimos pouquíssimos animais. Mesmo os pássaros foram muito poucos. O que impressiona mesmo são a flora e o tamanho dos rios.

- seca x cheia: ficamos na dúvida sobre qual época seria melhor, a de seca ou a de cheia. A única conclusão a que chegamos é que são tudo fica completamente diferente, então pretendemos fazer outra viagem para lá na época da cheia (fomos na seca)

- cruzeiros regulares: essa é uma alternativa interessante que pode ser o alvo da nossa próxima viagem para lá. Ao invés de ficar em um hotel, você fica em um barco
que vai navegando pelo rio, e assim acaba conhecendo lugares menos habitados ainda.

- encontro das águas: a desvantagem de ficar afastado de Manaus é que o Anavilhanas não inclui um passeio para o Encontro das Águas (local onde o Negro e o Solimões se encontram). Por quilômetros as águas não se misturam e pode-se ver/sentir claramente a diferença de cor e temperatura dos dois rios. O que fizemos foi contratar uma agência de viagens de Manaus, que nos levou para o encontro das águas e para um city tour antes de irmos para o aeroporto. Em breve vou colocar o contato deles aqui.

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